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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A arte da reabilitação

Graças ao trabalho de Lair na Apraespi, paciente descobre talento com artes 

- Revista Melhor do Comércio 

Vitório pavimenta sua casa após recuperação na Apraespi


Vitório dos Santos tem as mãos ásperas, calejadas pelo tempo. Homem simples e de fala serena, aos 63 anos exercia dignamente o ofício de pedreiro, com o qual se sustentou desde tenra idade. No entanto, a vida o obrigou a fazer uma pausa.  Acometido por uma meningite bacteriana, se viu forçado a amputar as pernas e antecipar sua aposentadoria.

O imenso apreço pela profissão que seguiu durante toda a vida fez com que os dias de aposentadoria fossem ainda mais difíceis. Ao mesmo tempo, o desejo de voltar ao trabalho ajudou o pedreiro a reunir forças para recomeçar. “Me sentia enclausurado em casa, sem poder fazer muita coisa, dependendo da minha família para quase tudo.  Daquele jeito não dava para continuar. Senti que era o momento de mudar”.

A primeira etapa da mudança na vida de Vitório foi sua chegada à Apraespi (Associação de Prevenção, Atendimento Especializado e Inclusão da Pessoa com Deficiência). Foi no centro de reabilitação que descobriu que tinha um  dom: o talento com as artes. Ele percebeu que as mesmas mãos que durante décadas lidaram com argamassa e pesados blocos de concreto poderiam agora produzir belos ornamentos.

Rodrigo da Silva, professor de educação artística da Apraespi, foi o primeiro a notar o dom de Vitório. “Durante o cotidiano das aulas, que ajudam na reabilitação de pacientes com deficiência física, percebi que o senhor Vitório tinha habilidades impressionantes. Por exemplo, na montagem dos mosaicos, ele limava as pedras com tanto esmero, com tanto perfeição, que os trabalhos iam ganhando formas magníficas. O talento do senhor Vitório era como um diamante bruto a ser lapidado”.

Foi então que o pedreiro passou a se dedicar cada vez mais ao artesanato. Todas as noites quando voltava da Apraespi, ia trabalhando em sua especialidade: os mosaicos. Peça por peça, Vitório lentamente ia aprimorando sua destreza. Contorno por contorno, a beleza da obra ia se revelando. “Tem que cortar direitinho, lixar direitinho, para que as peças se encaixem e o mosaico fique bonito. É como uma música bonita, que as palavras certas são escolhidas, aqui também é preciso escolher e ordenar as pecinhas direito”.

Com o passar do tempo, as obras de Vitório foram ganhando notoriedade e reconhecimento. Ele conta com orgulho a sensação que teve ao conseguir vender o primeiro mosaico: “é uma satisfação muito grande, é muito gratificante. É muito bom ganhar um dinheirinho com a arte, mas o mais importante para mim é saber que existem pessoas que reconhecem meu esforço”.

Mosaico trabalhado por Vitório
Esforço é o que não falta para o artesão finalizar suas criações. Dependendo do mosaico, pode demorar até dois anos. Vitório está trabalhando em um mosaico com um desenho em forma de borboleta. Só a asa direita levou três meses de sessões diárias para ficar pronta.
 
Por trás da força de vontade do paciente, está o sólido trabalho desenvolvido pela superintendente Lair Moura na Apraespi. Lá, Vitório passou por sessões de psicologia, terapia ocupacional, fisioterapia com pilates, além das aulas de educação artística, fundamentais para o processo de reabilitação. Assim como Vitório, centenas de pacientes com deficiências físicas vindos de todas as cidades da região passam diariamente pelo Hospital Dia. “O atendimento multidisciplinar é o segredo do sucesso da Apraespi”, afirma Lair. “Vejamos o caso do senhor Vitório, cuja fantástica recuperação acompanhei bem de perto: o trabalho dos psicólogos foi fundamental na motivação do paciente, a fisioterapia e terapia ocupacional ajudaram muito no aprimoramento da destreza. Sem esse apoio, seria quase impossível para ele se descobrir como artista. São essas histórias de superação que há 45 anos me motivam a trabalhar na Apraespi”, completa.

“O atendimento na Apraespi me ajudou muito. Tanto é que eu comecei a fazer meus mosaicos aqui, foi aqui que peguei gosto pela arte. O trabalho que a Lair faz aqui é muito importante na vida de muitas pessoas, assim como foi na minha”, conta o paciente.

Em setembro deste ano, depois de quase dois anos de tratamento, depois de muita perseverança, Vitório finalmente conseguiu realizar seu desejo: voltar ao trabalho. Com uma cadeira de rodas, ele pavimentou a casa da família sozinho. É verdade que não é mais possível exercer a profissão como antes. Mas isso não importa para Vitório: “é muito bom saber que você está fazendo algo útil, isso é gratificante demais. Me sinto reabilitado”. Reabilitado através do poder da arte. 

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