Graças ao trabalho de Lair na Apraespi, paciente descobre talento com artes
- Revista Melhor do Comércio
Vitório pavimenta sua casa após recuperação na Apraespi |
Vitório dos Santos tem as mãos ásperas, calejadas pelo
tempo. Homem simples e de fala serena, aos 63 anos exercia dignamente o ofício
de pedreiro, com o qual se sustentou desde tenra idade. No entanto, a vida o
obrigou a fazer uma pausa. Acometido por
uma meningite bacteriana, se viu forçado a amputar as pernas e antecipar sua
aposentadoria.
O imenso apreço pela profissão que seguiu durante toda
a vida fez com que os dias de aposentadoria fossem ainda mais difíceis. Ao
mesmo tempo, o desejo de voltar ao trabalho ajudou o pedreiro a reunir forças
para recomeçar. “Me sentia enclausurado em casa, sem poder fazer muita coisa,
dependendo da minha família para quase tudo.
Daquele jeito não dava para continuar. Senti que era o momento de
mudar”.
A primeira etapa da mudança na vida de Vitório foi sua
chegada à Apraespi (Associação de Prevenção, Atendimento Especializado e
Inclusão da Pessoa com Deficiência). Foi no centro de reabilitação que
descobriu que tinha um dom: o talento
com as artes. Ele percebeu que as mesmas mãos que durante décadas lidaram com
argamassa e pesados blocos de concreto poderiam agora produzir belos
ornamentos.
Rodrigo da Silva, professor de educação artística da
Apraespi, foi o primeiro a notar o dom de Vitório. “Durante o cotidiano das
aulas, que ajudam na reabilitação de pacientes com deficiência física, percebi
que o senhor Vitório tinha habilidades impressionantes. Por exemplo, na
montagem dos mosaicos, ele limava as pedras com tanto esmero, com tanto
perfeição, que os trabalhos iam ganhando formas magníficas. O talento do senhor
Vitório era como um diamante bruto a ser lapidado”.
Foi então que o pedreiro passou a se dedicar cada vez
mais ao artesanato. Todas as noites quando voltava da Apraespi, ia trabalhando
em sua especialidade: os mosaicos. Peça por peça, Vitório lentamente ia
aprimorando sua destreza. Contorno por contorno, a beleza da obra ia se
revelando. “Tem que cortar direitinho, lixar direitinho, para que as peças se
encaixem e o mosaico fique bonito. É como uma música bonita, que as palavras
certas são escolhidas, aqui também é preciso escolher e ordenar as pecinhas
direito”.
Com o passar do tempo, as obras de Vitório foram
ganhando notoriedade e reconhecimento. Ele conta com orgulho a sensação que
teve ao conseguir vender o primeiro mosaico: “é uma satisfação muito grande, é
muito gratificante. É muito bom ganhar um dinheirinho com a arte, mas o mais
importante para mim é saber que existem pessoas que reconhecem meu esforço”.
Mosaico trabalhado por Vitório |
Esforço é o que não falta para o artesão finalizar
suas criações. Dependendo do mosaico, pode demorar até dois anos. Vitório está
trabalhando em um mosaico com um desenho em forma de borboleta. Só a asa
direita levou três meses de sessões diárias para ficar pronta.
Por trás da força de vontade do paciente, está o
sólido trabalho desenvolvido pela superintendente Lair Moura na Apraespi. Lá,
Vitório passou por sessões de psicologia, terapia ocupacional, fisioterapia com
pilates, além das aulas de educação artística, fundamentais para o processo de
reabilitação. Assim como Vitório, centenas de pacientes com deficiências
físicas vindos de todas as cidades da região passam diariamente pelo Hospital
Dia. “O atendimento multidisciplinar é o segredo do sucesso da
Apraespi”, afirma Lair. “Vejamos o caso do senhor Vitório, cuja fantástica
recuperação acompanhei bem de perto: o trabalho dos psicólogos foi fundamental
na motivação do paciente, a fisioterapia e terapia ocupacional ajudaram muito
no aprimoramento da destreza. Sem esse apoio, seria quase impossível para ele
se descobrir como artista. São essas histórias de superação que há 45 anos me
motivam a trabalhar na Apraespi”, completa.
“O atendimento na Apraespi me ajudou muito. Tanto é
que eu comecei a fazer meus mosaicos aqui, foi aqui que peguei gosto pela arte.
O trabalho que a Lair faz aqui é muito importante na vida de muitas pessoas,
assim como foi na minha”, conta o paciente.
Em setembro deste ano, depois de quase dois anos de
tratamento, depois de muita perseverança, Vitório finalmente conseguiu realizar
seu desejo: voltar ao trabalho. Com uma cadeira de rodas, ele pavimentou a casa
da família sozinho. É verdade que não é mais possível exercer a profissão como
antes. Mas isso não importa para Vitório: “é muito bom saber que você está
fazendo algo útil, isso é gratificante demais. Me sinto reabilitado”.
Reabilitado através do poder da arte.
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